13/07/2016

Estudos realizados entre 1.990 e 2.000, empregando os princípios do biomonitoramento, revelaram que as porções de Floresta Atlântica, no entorno da Refinaria Presidente Bernardes (Petrobrás), na época, estavam sob forte estresse causado por ozônio, dióxidos de enxofre e nitrogênio e material particulado de composição diversa, incluindo hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, metais pesados, sulfatos e nitratos. Esses compostos poluentes podem ser tóxicos às plantas, dependendo de sua concentração, por causarem estresse oxidativo, acidificação celular, desarmonias nutricionais, entre outros efeitos. Na atualidade, o antigo sistema de geração de energia e vapor na refinaria via queima de óleo em caldeiras foi integralmente substituído pelo processo tecnologicamente moderno e com menor potencial poluidor, uma usina termoelétrica movida a gás natural lá instalada. Diante desses fatos, é possível supor que os riscos impostos por esses poluentes à Floresta Atlântica, na região, diminuiriam e que essa mudança ambiental poderia ser detectada biologicamente pelas plantas reconhecidamente bioindicadoras dos mencionados poluentes.

Desse modo, propôs-se uma série de estudos, com diferentes focos, agrupados no programa “Estudo técnico e social relacionado à implantação da usina termoelétrica Euzébio Rocha em Cubatão – SP”. Entre estes, inclui-se o projeto coordenado pela Pesquisadora Marisa Domingos, que se propôs a determinar os riscos impostos às porções de Floresta Atlântica que recobrem as encostas da Serra do Mar, inseridas na área de influência da refinaria, antes e após o início da operação da termoelétrica. Essa abordagem permitiu não somente testar a hipótese de que haveria um ganho ambiental associado à mudança no perfil de contaminação atmosférica, sob ponto de vista biológico, como também dimensioná-lo, verificando-se, em consequência, a eficácia da nova tecnologia a ser empregada. Realizou-se o biomonitoramento antes do início da operação da usina termoelétrica, durante sua construção após a mudança integral do sistema. O projeto teve como objetivos: verificar, por intermédio de respostas de plantas bioindicadoras, se a operação da usina termoelétrica para geração de energia e vapor, após o desligamento das caldeiras com queima de óleo, alterará o perfil de contaminação atmosférica nas encostas da Serra do Mar próximas à Refinaria Presidente Bernardes, cobertas por porções de Floresta Atlântica; verificar se as mudanças esperadas no perfil de contaminação atmosférica implicarão em mudanças no perfil de riscos impostos pelos mencionados poluentes atmosféricos às porções de Floresta Atlântica; verificar até que ponto as alterações observadas em plantas das espécies bioindicadoras arbóreas expostas no ambiente natural (biomonitoramento) podem ser associadas aos poluentes.

Em síntese, o biomonitoramento ativo foi realizado com 4 espécies bioindicadoras: Nicotiana tabacum Bel-W3 – tabaco (bioindicadora de ozônio); Lolium multiflorum ssp. italicum ‘Lema’com – azevém (acumuladora de elementos/compostos tóxicos); Tibouchina pulchra – manacá-da-serra (árvore nativa da Mata Atlântica e acumuladora de elementos químicos e Psidium guajava Paluma – goiaba (espécie tropical indicadora de ozônio e acumuladora de elementos químicos). As plantas foram expostas rotineiramente em 08 pontos da Serra do Mar no entorno da refinaria.

Os resultados deste sub-projeto apontaram para o aumento do poder oxidativo da atmosfera, principalmente nas encostas da Serra do Mar onde ocorre a Floresta Atlântica, talvez associado aos maiores níveis de NO2 e O3 (registrados pela CETESB em um dos locais do biomonitoramento).

O biomonitoramento com L. multiflorum permitiu indicar as principais fontes de emissão de poluentes da região de Cubatão. Al, Co, Cr, Cu, K, N, Ni, S, V e Zn foram possíveis marcadores de diferentes fontes do processo industrial na região em função da troca do sistema, de óleo combustível para gás natural, que fornece energia para a Refinaria Presidente Bernardes (RBPC). Contudo, somente as concentrações foliares de V foram reduzidas ao longo dos três períodos monitorados (antes, durante e após a partida da instalação da nova tecnologia). Os teores foliares dos demais elementos aumentaram entre as fases de pré-operação e pós-operação (Al, Co, N, K, S), ou apenas durante a fase de transição (Zn, Cu, Cr, Ni), retornando aos níveis anteriores após o desligamento total do sistema antigo. As concentrações de Fe e Pb aumentaram em paralelo ao aumento da produção de derivados de petróleo pela refinaria (12% entre 2009 à 2012) e pelo aumento da frota de veículos, cerca de 3 milhões de veículos a mais por ano, que circularam nas principais rodovias da região. Desse modo, a hipótese de que haveria um ganho ambiental associado à mudança no perfil de contaminação atmosférica foi rejeitada, pelo menos considerando a microescala adotada no presente projeto que abrange especificamente as encostas da Serra do Mar, recobertas pela Floresta Atlântica.

Com base em todos os resultados obtidos, sugerimos a continuidade do biomonitoramento da qualidade do ar naquela região, para dimensionar mais precisamente os riscos em longo prazo às espécies nativas da Floresta.