Índios Yanomami visitam Instituto de Botânica por ocasião do lançamento do primeiro  livro Yanomami sobre o conhecimento tradicional de cogumelos comestíveis do Brasil

Intitulado Ana Amopö: Cogumelos Yanomami, a publicação integra, ao lado de Salaka Pö: peixes, crustáceos e moluscos, a Enciclopédia de Alimentos Yanomami. Os dois livros serão apresentados aos paulistanos no vão central do Mercado de Pinheiros, em São Paulo (SP), na próxima segunda-feira (08 de agosto de 2016), a partir das 13h30.

Ana Amopö: Cogumelos Yanomami é o primeiro livro sobre o conhecimento tradicional indígena dos cogumelos comestíveis a ser publicado no Brasil. A publicação reconhece e reforça a contribuição do modo de vida indígena para a preservação da floresta e da biodiversidade. A partir desse estudo foram reconhecidos 11 tipos de cogumelos comestíveis consumidos pelos Sanöma (que correspondem a 15 espécies científicas) e que crescem principalmente nas roças e nas capoeiras (quando as roças de mandioca são abandonadas) ou, em menor quantidade, nas florestas da região.

Ambos os livros resultam do trabalho de pesquisadores Yanomami da região do Awaris, no extremo oeste de Roraima, na Terra Indígena Yanomami, em parceria com assessores do Instituto Socioambiental (ISA) e foram produzidos durante a formação dos pesquisadores promovida pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), com o ISA e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A pesquisa contou com a participação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), do Instituto de Micologia de Tottori do Japão (TMI), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), do Instituto de Botânica (IBt) e do Instituto ATÁ. Os pesquisadores não indígenas Noemia Kazue Ishikawa (INPA) e Keisuke Tokimoto (TMI) foram fundamentais para fazer a ponte entre o conhecimento científico sobre cogumelos comestíveis e os conhecimentos que os Sanöma detêm, enquanto que o professor e pesquisador não indígena Nelson Menolli Jr. (IFSP/IBt) foi o responsável pela identificação científica dos cogumelos consumidos pelos Sanöma.

A identificação taxonômica das amostras de cogumelos foi realizada no Instituto de Botânica, pelo Profissional Associado Dr. Nelson Menolli Junior, a partir de análises morfológicas e moleculares dos basidiomas coletados na região de Awaris. Das 15 espécies de cogumelos identificadas, pelo menos sete delas são relatadas pela primeira vez como fonte de alimento Sanöma: Lentinula raphanica, Lentinus bertieri, Panus strigellus, Pleurotus albidus, Pleurotus djamor, Polyporus philippinensis e Polyporus aff. thailandensis.

No último dia 29 de julho, parte dos pesquisadores Yanomami envolvidos no projeto, juntamente com os colaboradores Dra. Noemia Kazue Ishikawa (INPA) e o antropólogo Moreno Saraiva Martins (ISA), estiveram no IBt para conhecer os laboratórios e o herbário do Núcleo de Pesquisa em Micologia e entender como foi feito o processo de identificação dos cogumelos recebidos para estudos morfológicos e moleculares. Nessa mesma ocasião, as amostras recebidas para identificação foram devolvidas à comunidade indígena e passam a integrar a então criada “Coleção Hutukara Associação Yanomami – fungos” (CHAY-f).

Vale lembrar, para quem quiser experimentar, que os cogumelos secos estão à venda no Mercado de Pinheiros, no box Amazônia/Mata Atlântica e que os ganhos revertem integralmente  às comunidades Yanomami produtoras. (Para saber mais sobre os Cogumelos Yanomami acesse http://cogumeloyanomami.org.br/).